O Transtorno do Comportamento Sexual Compulsivo (TCSC), também conhecido como impulso sexual excessivo, vício em sexo, hipersexualidade, sexualidade excessiva, comportamento sexual problemático, é caracterizado por um padrão constante de falha de controlar impulsos, fantasias e comportamentnos sexuais intensos, que resulta em comportamento sexual repetitivo por um período grande de tempo (mais de 6 meses), e que causa sofrimento importante e prejuízo nas esferas pessoal, familiar, social, educacional, ocupacional, dentre outras.
A prevalência estimada na literatura atual é de que 3-10% dos homens e 2-7% das mulheres mundialmente podem experienciar TCSC. No Brasil, esse dado é de 7,8%. Com base em amostras clínicas pequenas, a maioria dos indivíduos com compulsão sexual que procuram tratamento são homens, com aparecimento do comportamento sexual compulsivo no final da adolescência. Muitos acreditam que a prevalência do transtorno é subdiagnosticada na população geral e que mulheres podem estar pouco representadas nessas amostras clínicas pelo caráter sensível do comportamento sexual.
A compulsão sexual não aparenta refletir apenas um tipo de comportamento sexual problemático. As pessoas tem em média múltiplos comportamentos que enxergam como compulsivos. O mais comum é a masturbação, uso compulsivo de pornografia e promiscuidade prolongada/"cruising" compulsivo (termo em inglês que significa a "caça" de parceiros em locais públicos) e múltiplos parceiros. A depender do comportamento, a pessoa estaria exposta a uma consequência mais ou menos nociva. Chances de contrair HIV e outras ISTs (infecções sexualmente transmissíveis), gravidez indesejada, risco de abuso e dependência de substâncias ou até de ser vítima de abuso sexual estão entre os riscos mais importantes nessa população. É comum a combinação de alguns comportamentos sexuais, então até a pessoa ter uma consciência de que está interferindo em sua vida pode levar tempo, às vezes anos.
É muito comum que as pessoas manifestem comportamentos sexuais para satisfazer alguma emoção, seja ela positiva ou negativa. Por exemplo, se masturbar para obter um prazer imediato frente a uma situação que gere ansiedade. Pessoas com TCSC frequentemente reportam estados de humor específicos que são gatilhos para seus comportamentos sexuais, sendo as mais comuns a tristeza e depressão, felicidade e solidão. Outros transtornos psiquiátricos comórbidos também são comuns em indivíduos com TCSC, como depressão, disfunções sexuais, transtorno por uso de substâncias, e outros transtornos do impulso, como jogo patológico e compra compulsiva.
Frente ao que foi dito, é de se imaginar que as abordagens terapêuticas para a compulsão sexual sejam diversas e, principalmente, devem ser individualizadas para cada paciente. Cada um que desenvolve TCSC possui um limite diferente do outro de o quanto esses comportamentos estão interferindo em sua vida. Identificar os processos na cronologia do desenvolvimento do comportamento sexual problemático é fundamental para se desenvolver a estratégia de tratamento mais eficaz.
Primeiramente elencando as abordagens psicoterápicas, as terapias cognitivo-comportamentais (TCC) e as psicodinâmicas são fortemente indicadas nesses casos.
A TCC visa a diminuição de sintomas compulsivos sexuais a partir do trabalho sobre os pensamentos e comportamentos. De uma forma geral, ensina a pessoa a identificar padrões e gatilhos, e a modificar suas respostas frente a eles.
A terapia psicodinâmica também tem grande importância. Como vimos, muitas pessoas com compulsão sexual vivenciaram situações traumáticas ou de sexualização precoce, e de conflitos na sexualidade, além de desenvolverem problemas de relacionamentos por conta do comportamento sexual. A análise ajuda o indivíduo a lidar com os conflitos e a entender seus processos de vida, podendo ser um grande suporte emocional no enfrentamento da compulsão.
Algumas questões familiares e culturais podem contribuir para o desenvolvimento do comportamento sexual compulsivo. Todos nós iniciamos nossas vidas sexuais em algum momento, seja de uma forma natural e saudável, ou precocemente, através de exposições, como exposições sexuais e eventos traumáticos, ou até tardiamente, como "saídas de armário" em que o indivíduo redescobre sua relação com a sexualidade, por exemplo. Desde muito cedo na vida aprendemos a lidar com emoções e sentimentos adversos através de estratégias de enfrentamento (do inglês "coping") das mais variadas formas possíveis. Um exemplo simples disso é a situação corriqueira de: frente a uma situação estressante ou ansiogênica muitos recorrem ao consumo de álcool ou ingesta aumentada de doces na tentativa de trazer alguma satisfação ou minimizar o impacto de tais emoções. Com o sexo podemos pensar de forma semelhante. Pessoas podem gradualmente ir criando estratégias ineficazes de coping que envolvem comportamentos sexuais em busca de um prazer imediato ou que alivie suas emoçõs negativas. E o sexo, ao mesmo tempo, é uma fonte de prazer legítima, o que alimenta o ciclo de recorrer a ele em pessoas que desenvolvem comportamentos compulsivos.
Existem casos em que a abordagem psicoterapêutica pode ser suficiente, mas outros em que será necessário um suporte medicamentoso. A medicação tem dois papeis principais no caso da compulsão sexual: aliviar os sintomas impulsivos e compulsivos, podendo diminuir a intensidade e frequência dos impulsos, e tratar comorbidades psiquiátricas, que são bastante prevalentes nesses casos.
As medicações mais comumente utilizadas são os antidepressivos Inibidores Seletivos de Recaptação de Serotonina (ISRS). Outras medicações que também auxiliariam nos casos de compulsão, a depender da intensidade dos impulsos ou falha de tratamento apenas com antidepressivos, são os estabilizadores de humor, antipsicóticos e antagonista de opióides.
Como efeito colateral também pode haver redução da libido, o que em diversos casos pode ser benéfico por um momento, principalmente para a pessoa preencher a rotina com outras experiências que não as sexuais.
No entanto, a prática da castração química com antiandrogênios (medicações que mexem no sistema hormonal e diminuem a testosterona, por exemplo) com a finalidade de zerar o desejo sexual não é regulamentada no Brasil. É importante lembrar que todo tratamento para compulsão não visa a "castração química", mas sim o desenvolvimento de uma sexualidade saudável e que ensine a pessoa a lidar com seus desejos e emoções.
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